sexta-feira, 27 de março de 2009

Jacques Lacan

Jacques-Marie Émile Lacan (Paris, 13 de abril de 1901 — Paris, 9 de setembro de 1981) foi um psicanalista francês. Formado em Medicina, passou da neurologia à psiquiatria, tendo sido aluno de Gatian de Clérambault. Teve contato com a psicanálise através do surrealismo e a partir de 1951, afirmando que os pós-freudianos haviam se desviado, propõe um retorno a Freud. Para isso, utiliza-se da lingüística de Saussure (e posteriormente de Jakobson e Benveniste) e da antropologia estrutural de Lévi-Strauss, tornando-se importante figura do Estruturalismo. Posteriormente encaminha-se para a Lógica e para a Topologia. Seu ensino é primordialmente oral, dando-se através de seminários e conferências. Em 1966 foi publicada uma coletânea de 34 artigos e conferências, os Écrits (Escritos). A partir de 1973 inicia-se a publicação de seus 26 seminários, sob o título Le Séminaire (O Seminário).
Pensamento Sua primeira intervenção na psicanálise é para situar o Eu como instância de desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo. É o momento do Estádio do Espelho. [1]O Eu é situado no registro do Imaginário, juntamente com fenômenos como amor, ódio, agressividade. É o lugar das identificações e das relações duais. Distingue-se do Sujeito do Inconsciente, instância simbólica. Lacan reafirma, então, a divisão do sujeito, pois o Inconsciente seria autônomo com relação ao Eu. E é no registro do Inconsciente que deveríamos situar a ação da psicanálise. Esse registro é o do Simbólico, é o campo da linguagem, do significante. Lévi-Strauss afirmava que "os símbolos são mais reais que aquilo que simbolizam, o significante precede e determina o significado”, no que é seguido por Lacan. Marca-se aqui a autonomia da função simbólica. Este é o Grande Outro que antecede o sujeito, que só se constitui através deste - "o inconsciente é o discurso do Outro", "o desejo é o desejo do Outro". O campo de ação da psicanálise situa-se então na fala, onde o inconsciente se manifesta, através de atos falhos, esquecimentos, chistes e de relatos de sonhos, enfim, naqueles fenômenos que Lacan nomeia como "formações do inconsciente". A isto se refere o aforismo lacaniano "o inconsciente é estruturado como uma linguagem". O Simbólico é o registro em que se marca a ligação do Desejo com a Lei e a Falta, através do Complexo de Castração, operador do Complexo de Édipo. Para Lacan, "a lei e o desejo recalcado são uma só e a mesma coisa". Lacan pensa a lei a partir de Lévi-Strauss, ou seja, da interdição do incesto que possibilita a circulação do maior dos bens simbólicos, as mulheres. O desejo é uma falta-a-ser metaforizada na interdição edipiana, a falta possibilitando a deriva do desejo, desejo enquanto metonímia. Lacan articula neste processo dois grandes conceitos, o Nome-do-Pai e o Falo. Para operar com este campo, cria seus Matemas. É na década de 1970 que Lacan dará cada vez mais prioridade ao registro do Real. Em sua tópica de três registros, Real, Simbólico e Imaginário, RSI, ao Real cabe aquilo que resiste a simbolização, "o real é o impossível", "não cessa de não se inscrever". Seu pensamento sobre o Real deriva primeiramente de três fontes: a ciência do real, de Meyerson, da Heterologia, de Bataille, e do conceito de realidade psíquica, de Freud. O Real toca naquilo que no sujeito é o "improdutivo", resto inassimilável, sua "parte maldita", o gozo, já que é "aquilo que não serve para nada". Na tentativa de fazer a psicanálise operar com este registro, Lacan envereda pela Topologia, pelo Nó Borromeano, revalorizando a escrita, constrói uma Lógica da Sexuação ("não há relação sexual", "A Mulher não existe"). Se grande parte de sua obra foi marcada pelo signo de um retorno a Freud, Lacan considera o Real, junto com o Objeto a ("objeto ausente"), suas criações.
Cronologia 1901: Nasce em Paris, no dia 13 de abril, Jacques-Marie Émile Lacan, primeiro filho de uma próspera família católica. 1907: Nascimento de seu irmão, Marc-Marie, que mais tarde entrará para a ordem dos beneditinos como o nome de Marc-François. 1919: Matricula-se na faculdade de medicina. Paralelamente estuda literatura e filosofia, aproximando-se dos surrealistas. 1928: Trabalha como interno da Enfermaria Especial para alienados da Chefatura de Polícia, dirigida por Gaëtan Gatian Clérambault, que mais tarde reconhecerá como seu único mestre na psiquiatria. 1931: Após examinar Marguerite Pantaine, que havia tentado assassinar a atriz Huguette Duflos, escreve sobre o episódio (conhecido como "Caso Aimée") uma monografia que está na gênese de sua tese de doutorado. 1932: Inicia sua análise com Rudolf Loewenstein. Defende a sua tese de doutorado, Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade. 1934: Casa-se com Marie-Louise Blondin, com quem terá três filhos. Caroline (1937), Thibault (1939) e Sybille (1940). 1936: Sua comunicação sobre o estádio do espelho, durante congresso da Associação Internacional de Psicanálise (IPA) em Marienbad, é interrompida no meio por Ernest Jones, discípulo e biógrafo de Freud. 1938: Inicia relações com Sylvia Bataille, ex-mulher do escritor e filósofo Georges Bataille. Torna-se membro da Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP). 1941: Separa-se de Marie-Louise. Nasce Judith Sophie, filha de Lacan com Sylvia. 1951: Sua técnica de sessões curtas gera controvérsias na SPP. Dá início aos Seminários, uma série de apresentações orais que constituirão o núcleo de seu trabalho teórico. 1953: Em meio à crise na SPP, faz conferências fundamentais como "O mito individual do neurótico" (em que utiliza pela primeira vez a expressão Nome do Pai), "O real, o simbólico e o imaginário" (que coloca suas teorias sob o signo do "retorno a Freud") e "Função e campo da palavra e da linguagem em psicanálise" (pronunciada em Roma). Deixa a SPP junto com Daniel Lagache, Françoise Dolto e outros 40 analistas. Funda a Sociedade Francesa de Psicanálise (SFP). Realiza o seminário Os escritos técnicos de Freud, primeiro a ser registrado por estenotipista, possibilitando posterior publicação. 1963: A IPA admite a filiação da SFP. 1964: Lacan funda a Escola Freudiana de Paris (EFP) com antigos alunos como Françoise Dolto, Maud e Octave Mannoni, Serge Leclaire, Moustapha Safouan e François Perrier. 1966: Publicação de Escritos e criação da coleção Campo Freudiano, dirigida por Lacan. 1967: Propõe a criação do "passe", dispositivo regulador da formação do analista. 1968: Lançamento da revista Scilicet, do Campo Freudiano. 1973: Publicação da transcrição do Seminário XI, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, realizado em 1964. A partir daí, os seminários passam a ser editados segundo esse procedimento. Caroline morre num acidente de automóvel. 1975: Lançamento de Ornicar?, boletim do Campo Freudiano. 1980: Anuncia a dissolução da EFP e funda em outubro a Escola da Causa Freudiana. 1981: Morre em Paris no dia 09 de setembro.
Obras O Seminário, Livro 1 - “Os escritos técnicos de Freud” (1953-54) O Seminário, Livro 2 - “O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise” (1954-55) O Seminário, Livro 3 - “As psicoses” (1955-56) O Seminário, Livro 4 - “A relação de objeto” (1956-57) O Seminário, Livro 5 - “As formações do inconsciente” (1957-58) O Seminário, Livro 6 - “Les désir et son interprétation” (1958-59) O Seminário, Livro 7 - “A ética da psicanálise” (1959-60) O Seminário, Livro 8 - “A transferência” (1960-61) O Seminário, Livro 9 - “L’identification” (1961-62) O Seminário, Livro 10 - “A Angústia” (1962-63) O Seminário, Livro 11 - “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise” (1963-64) O Seminário, Livro 12 - “Problèmes cruciaux pour la psychanalyse” (1964-65) O Seminário, Livro 13 - “L’objet de la psychanalyse” (1965-66) O Seminário, Livro 14 - “La logique du fantasme” (1966-67) O Seminário, Livro 15 - “L’acte psychanalytique” (1967-68) O Seminário, Livro 16 - “De um Outro ao outro” (1968-69) O Seminário, Livro 17 - “O avesso da psicanálise” (1969-70) O Seminário, Livro 18 - “D’un discours qui ne serait pás du semblant” (1970-71) O Seminário, Livro 19 - “...Ou pire” (1971-72) O Seminário, Livro 20 - “Mais, ainda” (1972-73) O Seminário, Livro 21 - “Les non-dupes errent” (1973-74) O Seminário, Livro 22 - “R.S.I.” (1974-75) O Seminário, Livro 23 - “O Sinthoma” (1975-76) O Seminário, Livro 24 - “L’insu que sait de l’une bévue s’aile à mourre” (1976-77) O Seminário, Livro 25 - “Le moment de conclure” (1977-78) O Seminário, Livro 26 - “La topologie et le temps” (1978-79) Escritos, 1998 Outros escritos, 2003 Os complexos familiares, 1987 Televisão, 1993 Abertura desta coletânea O seminário sobre "A carta roubada" De nossos antecedentes Para-além do "Princípio de realidade" O estádio do espelho como formador da função do eu A agressividade em psicanálise Introdução teórica às funções da psicanálise em criminologia Formulações sobre a causalidade psíquica O tempo lógico e a asserção de certeza antecipada Intervenção sobre a transferência Do sujeito enfim em questão Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise Variantes do tratamento-padrão De um desígnio Introdução ao comentário de Jean Hyppolite sobre a " Verneinung" de Freud Resposta ao comentário de Jean Hyppolite sobre a " Verneinung" de Freud A coisa freudiana A psicanálise e seu ensino Situação da psicanálise e formação do psicanalista em 1956 A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud De uma quesiao preliminar a todo tratamento possível da psicose A direção do tratamento e os princípios de seu poder Observação sobre o relatório de Daniel Lagache: "Psicanálise e estrutura da personalidade" A significação do falo À memória de Ernest Jones: Sobre sua teoria do simbolismo De um silabário a posteriori Diretrizes para um Congresso sobre a sexualidade feminina Juventude de Gide ou a letra e o desejo Kant com Sade Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano Posição do inconsciente Do "Trieb" de Freud e do desejo do psicanalista A ciência e a verdade Comentário falado sobre a "Verneinung" de Freud, por Jean Hyppolite A Metáfora do Sujeito
Referências Obras de caráter introdutório Meu Ensino - Jacques Lacan, Jorge Zahar Editor Lacan - Gérard Miller, (org.),Jorge Zahar Editor Lacan - Alain Vanier, Estação Liberdade Percurso de Lacan, uma introdução - Jacques-Alain Miller, Jorge Zahar Editor Lacan,O Grande Freudiano - de Marco A. Coutinho Jorge e Nadiá P. Ferreira, Jorge Zahar Editor Cinco lições sobre a teoria de Jacques Lacan - J.-D. Nasio, Jorge Zahar Editor A negação da falta, 5 seminários sobre Lacan para analistas kleinianos - Marcio Peter de Souza Leite, Relume-Dumará Jacques Lacan, uma biografia intelectual - Oscar Cesaroto e Marcio Peter de Souza Leite, Iluminuras Introdução à leitura de Lacan - Oscar Masotta, Papirus Lacan, a trajetória de seu ensino - Marcelle Marini, Artes Médicas Revista Viver Mente&Cérebro - Edição Especial, Coleção Memórias da psicanálise, nº 4.

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