A Gestalt-Terapia, também conhecida como Terapia Gestalt, é uma abordagem psicoterápica baseada no ideal experimental do "aqui-agora" e nas relações com os outros e com o mundo, e foi co-fundada por Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman nos anos 1940-1950. Está relacionada com, mas não é a mesma coisa que, a psicologia gestalt e a psicoterapia teórica gestalt de Hans-Juergen Walter.
Inicialmente baseada nas idéias da psicologia gestalt e na psicoterapia tradicional, a terapia gestalt foi desenvolvida como modelo psicoterapeutico, com uma teoria bem desenvolvida que combina abordagens fenomenológicas, existencialistas, dialógicas e de campo ao processo de transformação e crescimento dos seres humanos.
Perls sempre frisou que a gestalt-terapia não era uma criação original sua, mas, pelo contrário, uma união de vários conhecimentos da área de psicologia, que ainda não havia sido experimentado por ninguém. Cabe a gestalt-terapia a configuração destes conhecimentos, dando a eles uma abordagem própria.
Os métodos e objetivos variam de acordo com os autores, para Perls o objetivo da terapia é saltar do apoio ambiental para o auto-suporte (self-suport). Em outro momento encontramos como objetivo da Gestalt-Terapia a Awareness. Awareness é uma palavra sem conceituação exata para o português, no entanto ela é utilizada para conceituar o que muitos chamam continuum de consciência, para outros seria uma transcendência da consciência de si. Essa consciência refere-se a capacidade de aperceber-se do que se passa dentro de si e fora de si no momento presente, em nível corporal, mental e emocional.
Gestalt
Gestalt é uma palavra alemã. Existem diversas interpretações para o termo, uma, diz que pode ser considerada a psicologia da forma, outra, associa ao processo de surgimento de figura-fundo. O palavra adequada para designar a Gestalt seria dizer: "Gestaltung", palavra que indica dar forma, ou seja, um processo, uma formação.
A concepção da psicologia da Gestalt, até então antiga, é a teoria sobre como o nosso campo perceptivo segue determinadas tendências sob a forma de conjuntos estruturados. A percepção estruturada se daria seguindo a tendência das linhas e das formas, destacando as figuras de seus fundos. Porém, não se pode reduzir os fenômenos somente ao que é percebido (ao campo perceptivo), pois deve-se levar em conta o todo sendo diferente da soma das partes. Ex: H2O. Sabemos que a fórmula da água é de duas particulas de Hidrogênio e uma de Oxigênio; no entanto não se consegue "fazer água" apenas juntando essas duas móleculas. Assim, "o todo é diferente da soma de suas partes"; influência também herdadas das psicologias de Kurt Lewin (Teoria do Campo) e Kurt Goldstein (Teoria Organísmica).
A principal queixa dos criadores da Gestalt, em relação, às psicoterapias tradicionais é o fato delas não compreenderem o ser como um todo. Quando se analisa um comportamento é preciso considerar o contexto, o que poderíamos chamar de espaço-tempo. Segundo GINGER: "uma parte num todo é algo bem diferente desta mesma parte isolada ou incluída num outro todo [...] num jogo um grito é diferente de um grito numa rua deserta [...]" (1995, p14).
A psicologia da Gestalt possibilitou a Perls estudar a hierarquia de necessidades. Ele dizia que uma Gestalt seria o processo de formação de uma necessidade em busca de sua satisfação. Então todo o organismo seria colocado a favor da Gestalt emergente (a figura que emerge de seu fundo). Um organismo sadio estaria atento ao surgimento de Gestalten e iria rumo a satisfação.
Um exemplo utilizado por Perls, diz respeito a uma mãe com seu bebê recém nascido, que em meio a uma multidão de sons, sono e cansaço (fundo), acorda ao ouvir seu filho chorando (figura).
Influências da gestalt-terapia
A Gestalt-terapia tem como base várias teorias do conhecimento humano, entre elas, as mais utilizadas por Fritz Perls, de acordo com Tellegen (1984, p.34) são: análise do caráter de Reich, a fenomenologia, a psicologia da Gestalt, a teoria organísmica de Kurt Goldstein, a filosofia existencial, zen budismo (embora com determinada cautela), a teoria do campo de Kurt Lewin e a psicanálise. Esta última é interessante que seja ressaltado que Perls era psicanalista, em determinado momento admite a o valor da pesquisa psicanalítica, afirmando: “Quase não existe uma esfera da atividade humana onde a investigação de Freud não tenha sido criativa, ou, pelo menos, estimuladora” (1969, p.13). Contudo, a fundamentação com a psicanálise deve ser vista com cuidado, pois Perls manteve ásperas relações com a psicanálise. Em certos momentos faz comentários sobre Freud e sua teoria.
“[...] Freud, suas teorias, sua influência são por demais importantes para mim. [...] Fico profundamente abismado diante do que praticamente sozinho realizou, com instrumentos mentais inadequados de uma psicologia associacionista e uma filosofia de orientação macanicista. Sou profundamente grato por tudo que aprendi justamente ao me opor a ele.” (PERLS, 1979)
Uma das influências mais incisivas sobre a Gestalt-terapia é a teoria organísmica de Goldstein. Essa teoria deu base para que Fritz não fosse mecanicista ou associacionista.
A teoria organísmica é contrária às teorias associacionistas, que buscavam causa-efeito. Ela constituia-se basicamente pela busca entre as inter-relações existenciais entre os fenômenos, além, de analisar as funções psicológicas, mas o organismo como um todo.
"[...] 'como' um dado fenômeno é constituído, de que forma se tecem as inter-relações entre suas partes, 'em função do quê' se estrutura o todo de uma determinada maneira e não de outra. Como ocorrem mudanças nesta estruturação? Existe uma tendência direcional nestas mudanças?"' Tellegen (1984, p.38)
O modelo biológico utilizado por Goldstein, concebia um organismo como um sistema em equilíbrio e que qualquer necessidade causava um desequilíbrio que precisava ser corrigido. Perls associou a teoria organísmica junto às leis da psicologia da Gestalt, entre elas, a lei da "boa forma" (afirma que sempre predominará aquela configuração que mantiver estados mais harmoniosos), sendo assim, todo fato que altere esse equilíbrio, tornar-se-á evidente a tendência das partes em se re-organizarem e a energia em se re-distribuir de acordo com o campo.
Nesse momento surge a necessidade de se exemplificar claramente essas tendências organísmicas. Costuma-se utilizar o exemplo de uma célula e sua membrana citoplasmática. Sabe-se que a célula realiza trocas constantes de moléculas com o seu meio externo e que é através da membrana e sua permeabilidade é que a célula recebe nutriente e expele substâncias. Sabemos que a célula vive em sucessivas e incessantes trocas, pois delas depende sua existência. Graças à permeabilidade da membrana a célula mantém-se em equilíbrio com seu meio externo.
Essa noção de organismo de Goldstein dá ênfase à organização das Gestalt’s (surgimento de figura e fundo). É necessária essa relação vital, e diríamos até dialética, entre organismo-meio para se compreender o comportamento em geral.
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