quarta-feira, 2 de junho de 2010

A profissionalização política (segunda parte) Francisco Ferraz

As conseqüências da concepção que nega à função política o status de carreira profissional são muitas e significativas:

• Rebaixa o status do político e das instituições políticas.
• Não é por acaso que nas pesquisas que medem o grau de confiança da população em diferentes instituições as organizações políticas - partidos, congresso e governo - ocupam as posições mais baixas.
• Contribui para operar uma seleção negativa. Muitas pessoas honradas e qualificadas evitam a carreira política para evitar o estigma, enquanto indivíduos menos qualificados moral e profissionalmente são atraídos por ela.
• Estimula a superficialidade do político, seu desleixo no aperfeiçoamento e modernização. Como a carreira não é considerada profissional, não há necessidade e nem estímulo para a qualificação, como ocorre nas demais carreiras.
• Os resultados dessa superficialidade manifestam-se como ineficiência, irrelevância e distanciamento do político daqueles que o elegeram.
Favorece e legitima a aventura política, o voluntarismo irresponsável. Como a porta de ingresso é o voto, quem é capaz de consegui-lo por qualquer método (demagogia, populismo irresponsável, uso do poder econômico etc) não encontra resistência para chegar ao poder.
• Nossa cultura política tem baixa imunidade para defender-se do assalto aventureiro e voluntarista ao poder.
• Expulsa da política a dimensão de grandeza, de heroísmo, sacrifício, nobreza de intenções, comprometendo assim a própria imagem da democracia.

É fundamental esclarecer que este quadro de consequências não deve ser entendido como a descrição da realidade da vida política. Muito ao contrário. É uma das mais nobres vocações a que uma pessoa pode se propor e está repleta de exemplos dignos e edificantes. Tampouco deve-se atribuir tais efeitos exclusivamente à falta de uma concepção profissional da política como carreira pública. Há muitos outros fatores que são tão ou mais importantes para explicar a sua ocorrência.

O fato é que perdura a contradição entre a visão aristocrática - residual, mas em pleno vigor – e a realidade da atividade política, que opera em detrimento da sua imagem constituída. Assumir a função como uma carreira, com as mesmas exigências de atualização e qualificação dos demais ofícios, seguramente contribuirá para elevar a qualidade de nossos representantes, recuperar o prestígio das instituições políticas e, finalmente, aperfeiçoar a democracia.

Fonte: Política para Políticos

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